30.12.07

formicídio #3

Sonhei com formigas outra vez. Percorriam a parede à minha frente, dispostas em três fileiras sinuosas de uma perfeição inquebrantável; formigas-britânicas.
Britânicas ou não, saquei o detefon e exterminei-as sem dó nem piedade. E foram desabando aos punhados da parede indiferente.
No mês anterior, de novo as formigas tinham dado as caras. Só que, agora, eu descia uma montanha pela margem barrenta de uma estrada sinuosa e esburacada de paralelepípedos mal-conservados; o caminho ladeado de floresta úmida, encosta acima e encosta abaixo; e eu andando aos escorregões pelo terreno irregular e enlameado, coalhado de grandes saúvas vermelhas recém-desalojadas pela chuva. Não as temia, porém, e seguia pisoteando-as com vontade, sentindo-as esmagadas pela força dos meus passos.
Semanas antes, e pouco depois de ter meu sono invadido por aranhas, eu havia topado novamente com formigas saindo dos meus buracos oníricos. Essas, contudo, eram formigas-gigantes, feitas de argila e que pareciam equilibrar-se sobre pernas-de-pau de tão compridas; iam saindo das frestas de uma sala escura que eu fechava ao fim de um dia de trabalho. Com essas não me preocupei, apesar da falta de cabimento, pois deixaria ali meus gatos e sabia que eles dariam conta de caçá-las durante a noite.
O tempo tinha passado e eu dera por esquecido um primeiro sonho, em que escalava um barranco, fugindo de um grande perigo, e ao me debruçar sobre a última borda as formigas me atacavam às ferroadas. E. ia à minha frente, eu lhe implorava ajuda, mas ela em vez de me estender a mão insistia em que eu superasse as vicissitudes da vida por minha própria conta. Não era hora para ser educativa, e acordei com ódio.
Intitulei o sonho desta semana “Formicídio #3” e saí em busca de um manual de interpretação de sonhos. Ou de um apontador do jogo do bicho para tentar a sorte e, quem sabe, começar o ano-novo com o pé direito.