O arroxeado do céu prenuncia o nascer do dia. De calças arregaçadas na metade da canela, o lago gelado fazendo doer-lhe até a medula dos ossos, você joga a sua rede; e espera.
Uma camada de neblina branca flutua sobre as águas a perder de vista. A paisagem estática e fria como um espelho. Nenhum junco se mexe na margem, nenhuma lavadeira ou salamandra, girinos, nada. Só a luz violácea, e a estrela-d’alva.
Você espera — que hoje venha mais que rãs e lambaris.
O frio perfura como alfinetes de prata seus ossinhos dos pés, e você pode contá-los um por um. E espera.
O horizonte anuncia uma fina lâmina de luz dourada. A estrela-d’alva bruxuleia.
Ainda não.
Ninhos entre os juncos, ovos malhados, aves aquáticas adormecidas. Você não os vê, mas estão lá.
Então, uma gota de orvalho que se acumulou a noite inteira cede ao próprio peso e escorre de uma folha de avenca.
Um pernilongo pousa com suas asas transparentes e forma círculos concêntricos imperceptíveis na superfície cristalina.
Uma brisa tão leve que move apenas três fios do seu cabelo — e você começa a puxar a rede com movimentos vagarosos e olhar atento...
...não.
Não, a única novidade hoje é uma tartaruguinha verde.
Talvez amanhã.
Nenhum comentário:
Postar um comentário