Enquanto isso, dia após dia eu me enfiava entre as raízes da velha árvore e lá ia visitar minhas quimeras subterrâneas. Já não me contentava em acompanhar suas vidas de longe, porém; havia algum tempo que eu tinha me atrevido a abandonar meu cobertor de musgo e me introduzir em seu meio. Assim visitei as cidades de ouro e prata das quais conhecia antes apenas os muros, e vi por dentro palácios e estrebarias, cozinhas e salões. Cheirei as réstias de alho dependuradas, os afiambrados, os molhos de arrudas e outras ervas; cheirei o estrume dos mais magníficos cavalos, a madeira envelhecida dos balcões, cortinas de seda esvoaçantes e a fedentina das sarjetas. Percorri também os campos e florestas entre tigres-dentes-de-sabre, manadas de cervos de chifres dourados e unicórnios, dragões adormecidos e carpas encantadas; e hamadríades. Surrupiei ovos dos ninhos e compotas das prateleiras. Corri mundo — e a cada passo do caminho eu crescia e encorpava — afastando-me, passo a passo, da infância deixada para trás.
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