16.2.07

sucata

Sem fantasia
Vem, mas vem sem fantasia,
que da noite pro dia
você não vai crescer.
(Chico Buarque)

Hoje é dia de faxina:
estou de mudança.
Ordem geral nas gavetas.
Nos cantos.
Nos quartos.
Nos incômodos.
Tirar os móveis
e os imóveis
do lugar.
Mesmo os mais plantados,
os mais teimosos.
Mesmo os mais escuros,
devassar. Arejar. Espiar
e descobrir as teias
mais sólidas. Os bolores
mais incrustados.
As dores, as mais antigas.
Daquelas que dói só
de lembrar — quanto mais
de espanar. Botar
os fantasmas no lugar,
amassados camaradas
velhos de guerra.
E descascar o mofo
à pontinha de unha,
com cuidado, com muito
cuidado (mas mesmo),
pra não me arranhar.
Juntar então dolorosas
montanhas de entulho.
E com o lixo, depois
e ecologicamente correta,
fazer flores de papel-machê
coloridas e cheirosas
pra enfeitar a casa nova,
carinhosamente reciclada.
Rio, 11/05/1997
= = =
a propósito, o aviãozinho de lata é do albini...

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