Às vezes me dou conta de que estou olhando pra trás há tanto tempo que nem lembro quando foi que começou. Esperando alguma coisa que nunca veio, lamentando tudo o que foi, perdida num pântano gelado e fedorento, me arrastando, com a água ora nos joelhos, ora nas coxas, ora no pescoço, rodando, dando voltas sem perceber nem ir a lugar nenhum.
As partes do meu corpo dentro d’água é como se se diluíssem nela, e não as sinto. E o ar que respiro é úmido e denso e carregado de odores e miasmas, e inspirar é uma façanha penosa. (Outro dia vi na televisão um programa sobre a natureza de cada um. Pensei na sensação que me persegue há anos de estar imersa numa água fria, gelada, escura e concluí: sou de natureza molhada.)
É esse muco todo que me inunda, se acomoda na minha garganta e me vem do estômago porque penso demais. Quer dizer, eu sou fria e úmida por dentro, o meu muco é a lama do meu pântano musguento. O ar, uma neblina espessa que filtra a luz e cria uma claridade difusa e amarelada capaz de fazer qualquer um duvidar da própria existência do sol.
Sou filha da lama pegajosa, devoradora, movediça, e do céu baixo, do ar grosso, distante e imaterial (e ao mesmo tempo pregnante, ubíquo, invasivo; úmido, ele também). Então, durmo e sonho com o ar leve, fino e aberto; e com a terra, sólida, firme, concreta. No entanto, este lugar sem horizontes nem rumos nem caminhos é apenas excessivo, inconstante e estéril. Tudo é desolação aqui, e tudo o que faço é dormir.
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