29.9.06

vestígios

(momento coca-cola)


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Estou cheia de peças soltas nas mãos e não sei bem o que fazer com elas. Eu andava por aí com as mãos nos bolsos. Hoje, a mão quando entra no bolso encontra a chave de casa, e segura firme.

Sempre gostei mais da lua do que do sol. Sempre tive medo de espelho e hoje descubro que era o meu rosto que eu tinha medo de encontrar - por trás da máscara. O menino que me aterrorizava era o filho que meus pais tanto quiseram e eu não pude ser? Talvez.
Tudo o que eu podia era acordar. E acordava amarrada, amordaçada, mumificada num casulo que não se abria nunca. Não gostava do meu casulo-caixão, claro.

Agora que começo a despontar mulher, agora que começo a me encantar menina, não consigo falar com a minha mãe. (Tenho medo de que ela as mate.)

Passei a vida inteira de alma partida: a de lá habitava um mundo mágico; a de cá só disfarçava, pra não decepcionar. Em caso de desavença, a de cá se desdobrava pra transformar em realidade o reino encantado, em vez do contrário. E mentia.

Não consigo entender como o que eu faço neste mundo pode ter conseqüências e gerar frutos que me alimentem depois. Não entendo as noções de cultivo e colheita. Sempre depositei no outro o atender todas as minhas necessidades, que foram sempre todas supridas antes mesmo que eu as percebesse - não consigo entender como não pode ser mais assim, automático. Não entendo o “comer o pão com o suor do meu rosto”. Achei que, no dia em que eu me curasse, acordaria num belo éden encantado. Não me ocorreu que esse jardim teria de ser plantado e cuidado.
E agora, o que faço com esse terreno inóspito ainda com tanto por fazer? Esta terra por lavrar?

O que me consola é o ter um riacho irrigando o fundo do quintal.
Aproximo-me, vejo-me refletida junto à margem e resisto à sua vertigem.
Preciso me descolar do meu reflexo – da minha imagem e semelhança – e encontrar-me de novo comigo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Queria poder te abraçar agora longamente, amorosamente, carinhosamente...Te amo, viu?